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"O medo de denunciar não pode nos paralisar", diz mulher assistida pela Patrulha Maria da Penha

Vítimas relataram que apoio das equipes foram essenciais para vencerem o ciclo da violência

09/08/2025 às 08h20
Por: Redação Fonte: Polícia Militar - MT
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"O medo de denunciar não pode nos paralisar. Vivemos anos sendo vítimas de violência doméstica, mas chega uma hora que é preciso dar um basta nesse ciclo para podermos seguir em frente". Esse é o depoimento de uma das 2.970 mulheres que foram acolhidas pelo Programa Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar de Mato Grosso, neste ano. 

Marluce* vive na zona rural do município de Nossa Senhora do Livramento e foi casada com o ex-marido por mais de dez anos. Em diversas situações, passou momentos de pânico nas mãos do agressor, sofrendo violência física e psicológica. 

"Na maioria das vezes, ele estava embriagado. Me tratava mal, dizia coisas horríveis e fazia eu me sentir a pior pessoa do mundo. Em outras situações, me agredia com tapas, socos e chutes. Uma das agressões quebrou meus dentes e sempre me ameaçava caso eu acionasse a polícia", contou, relembrando os momentos de dor que passou junto do agressor. 

Em um certo dia, após conversar com a filha, tomou a decisão de acionar a Polícia Militar, por meio do 180, para relatar a situação e pôr um fim às agressões. A partir da denúncia, Marluce passou a ser assistida pelo Programa Patrulha Maria da Penha e recebeu a devida atenção e acolhimento.

"Eu passei muito mal, desenvolvi crises de ansiedade só de pensar em denunciar o agressor, com medo do que ele poderia fazer comigo. Mas, depois de muita coragem e determinação, eu decidi fazer o que era certo e o melhor pra mim, para minha vida, que era denunciar. Com o tempo, fui acolhida da melhor maneira possível e reconheci que nada do que aconteceu era minha culpa", ressaltou, sobre a importância de integrar a Patrulha Maria da Penha.

A vida de Joselma* também mudou a partir do momento em que ela reconheceu ser vítima de violência doméstica em Várzea Grande. Há três meses, ela denunciou o ex-marido, com quem foi casada por 10 anos, após perceber que vivia um relacionamento cercado por medo, insegurança e violência.

"A gente fica numa situação e se acostuma a conviver com ela. No começo, não percebemos se tratar de violência doméstica e, com o tempo, você está sendo agredida de diversas maneiras. Essa foi uma realidade que reconheci por meio da Patrulha Maria da Penha, no qual me prestaram todo apoio possível, desde orientação jurídica e ajuda psicológica para poder superar esse trauma", contou. Ambas as vítimas possuem medidas protetivas contra os agressores. 

A Patrulha Maria da Penha teve início em 2019 como objetivo encerrar ciclos de violência e resgatar a sensação de segurança e dignidade das vítimas. Dos 142 municípios, o programa está ativo em 98 cidades, por meio de 41 núcleos, dos 15 Comandos Regionais. Neste ano, 4.008 medidas protetivas foram decretadas pelo Poder Judiciário e 346 casos de descumprimento foram registrados. Além disso, 124 homens foram presos em flagrante por violência doméstica, 5.524 visitas solidárias às vítimas foram contabilizadas, e 642 autores foram visitados para trabalhos de orientação. Mato Grosso registrou um caso de feminicídio entre as mulheres assistidas pelo programa Maria da Penha. 

A comandante da Patrulha Maria da Penha, do 1° Comando Regional, capitã PM, Gabrielle Narjara, destacou que o programa promove atividades de prevenção primária com a realização de palestras, orientações, blitz educativas e outras formas de acolhimento, assegurando uma rede de proteção e incentivando as vítimas a denunciar. Além disso, desde a implantação em Mato Grosso, as equipes têm se dedicado de forma incansável à proteção de vítimas de violência doméstica, garantindo o cumprimento das medidas protetivas de urgência e promovendo a sensação de segurança para essas mulheres. 

"Esse número reflete não apenas a ação ostensiva da Patrulha, mas também o fortalecimento da rede de proteção, o diálogo constante com o Judiciário e Ministério Público, e a confiança das mulheres assistidas em nosso trabalho. Porque sabemos que a violência doméstica deixa marcas que vão além das visíveis. Marcas emocionais, psicológicas, silenciosas e é justamente por isso que nosso trabalho vai além da fiscalização. É um trabalho de escuta, acolhimento e proteção integrada. Entendemos que essa não é uma batalha de curto prazo, que há desafios estruturais, culturais e institucionais, mas sabemos também que cada mulher salva é uma vitória imensurável no nosso Estado", enfatizou. 

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Cláudio Fernando Tinoco, destacou que o programa tem reduzido os índices de reincidência de violência entre as mulheres atendidas, e que os resultados positivos são uma soma de esforços no trabalho do policiamento ostensivo, preventivo e dos investimentos do governo no âmbito da segurança pública em Mato Grosso. Desde 2019, o Governo de Mato Grosso já investiu mais de R$ 2,3 milhões no programa Patrulha Maria da Penha, voltados para compra de viaturas e equipamentos tecnológicos e de trabalho próprios, além da reforma de locais e sedes para atendimento às vítimas.

"A atenção da primeira-dama Virginia Mendes representa um fortalecimento da rede de enfrentamento ao combate à violência contra as mulheres e vulneráveis, para que possamos potencializar as nossas ações em todo o Estado. Já possuímos a jornada extraordinária com várias operações dentro do Estado e agora de forma específica para atuação na violência contra a mulher”, pontuou coronel Fernando.

Operação Integrada Shamar 2025

As Forças de Segurança do Estado deflagrou a Operação Integrada Shamar 2025, na quinta-feira (7.8), que marca o "Dia D" da mobilização nacional de combate a violência contra mulher. A ação conta com equipes da Polícia Militar, Civil, Corpo de Bombeiros, Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), e Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec). 

"A Operação tem como principal missão atuar de forma conjunta e integrada com todas as forças de segurança pública no enfrentamento à violência contra a mulher. Mais do que ações ostensivas e operacionais, ela foca também na prevenção, por meio de orientações e palestras que buscam conscientizar e encorajar as mulheres a romperem o ciclo de violência", afirmou o secretário-adjunto de Integração Operacional, coronel Fernando Augustinho.

Coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a Operação Shamar ocorre em todo o território nacional tradicionalmente no mês de agosto. A iniciativa faz referência ao aniversário da Lei Maria da Penha, que completa 19 anos de promulgação neste dia 7 e integra a campanha Agosto Lilás. 

Foto: Reprodução/Polícia Militar - MT
Foto: Reprodução/Polícia Militar - MT

 

Os nomes das vítimas são fictícios, para manter a integridade das mulheres assistidas pela Patrulha Maria da Penha*

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